Monday, March 31, 2008

Pronto, agora é que esta merda vai parecer um blog de gaja!

Mas esta tenho de partilhar convosco. Para o sustentado desenvolvimento e aprendizagem dos meus leitores, que também merecem após tantos momentos a estupidificar ao ler este espaço.

No meu aniversário, umas colegas de trabalho, conhecendo-me o gosto, ofereceram-me um livro de culinária. Daquele chef inglês, o Jamie Oliver. Vai daí, ponho-me a ler e ganhar maior entusiasmo pela arte. E a compreender a necessidade de um pilão e almofariz, bem como da necessidade de criar uma despensa com algumas ervas frescas e especiarias básicas. Pois estas fazem a diferença toda.
Adiante. Este fim-de-semana decidi, pela primeira vez, seguir religiosamente uma receita do livro. E ficou um E-S-P-E-C-T-Á-C-U-L-O o meu Risotto de Cogumelos, cuja confecção decido partilhar.

1. Primeiro é preciso fazer um caldo de legumes. Quantos mais melhor, mas no meu caso foi só couve branca e cenoura, que depois de picados foram para uma frigideira com azeite, alho picado, rosmaninho e pimenta preta. Depois de uma breve fritura, três copos de água, sal e umas folhas de louro. Depois é só deixar ferver uns dez minutos e coar os legumes, que ficam prontos para acompanhamento. O caldo fica já à parte.

2. Os cogumelos. Os melhores são os porcini (há no Froiz). Por estranho que pareça, não se podem lavar senão absorvem a água e quando vão à frigideira, em vez de fritar, cozem. Frigideira com eles, com azeite, sal, pimenta preta, salpicão, tomilho e salsa picados. Quando prontos, é só espremer um limão que evapora rapidamente em contacto com a frigideira. Metade dos cogumelos devem ser, no final, finamente picados.

3. O risotto. Um tacho com azeite, alho e duas cebolas vermelhas, tudo picado. Quando a cebola começar a ficar transparente, juntar o risotto também por lavar para não perder o amido (já começa a parecer algo badalhoca esta receita!). Deixar fritar uns minutos, sempre a mexer. Juntar meio copo de bom vinho branco (abra-se uma boa garrafa de Planalto ou João Pires que depois servirá para acompanhar). Sempre a mexer, é o segredo. Juntar os cogumelos picados e um pouco de manteiga. Agora é só ir juntando o caldo aos poucos e ir mexendo, até cozer e ficar com a textura certa (de modo a escorrer pelo prato). No final, juntar os cogumelos inteiros e queijo parmesão, de preferência ralado no momento.

Agora é só pegar na garrafa de vinho que foi aberta e nos legumes coados para acompanhar. Experimentem e depois digam de vossa justiça.

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A vida muda num minuto

Um vizinho, do tempo em que morava com os meus pais. 28 anos de idade. Ao fim de longo período de desemprego e isolamento social, uma oportunidade de emprego numa cadeia de hipermercados. Fazem-se novos amigos no trabalho. Compra de um Honda Civic, que religiosa e orgulhosamente cuida e apetrecha. Finalmente, a notícia que ingressaria nos quadros da empresa. Uma saída com esses novos amigos para festejar. A vida finalmente parece endireitar-se.

A auto-confiança patrocina um pequeno momento de loucura, um excesso. Que origina, de repente, um despiste e uma tragédia. E toda a vida volta a ruir, agora com a culpa de uma morte. De um dos amigos. Dá que pensar quando o azar bate tão perto. Pena que, para alguns, seja tão tarde.


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Afinal, o segredo é dormir pouco

Quinta-feira. Copos de despedida de uma amiga de partida para Luanda. 4 horas de sono e uma aula na Faculdade às 08:15 da manhã. No meu tempo, os ressacados eram os alunos. Sair da aula a correr e apanhar o Metro para Campanhã. Alfa às 11:47 em direcção a Lisboa.

Pequeno-almoço no comboio ao meio-dia. Chegada a Santa Apolónia. Táxi para o Cais do Sodré (taxista refila um bocado, mas nada de grave). Novo comboio para Paço de Arcos (só se vê «gunas» nesta linha...). Apresentação numa multinacional norte-americana da área da consultoria com quem, provavelmente, passarei a colaborar. Apresentação correu acima das minhas expectativas, assim como quem dormiu 12 horas. Regresso pelo mesmo caminho. Percurso a pé do Cais do Sodré até Santa Apolónia (de táxi parece mais perto!). Almoço às 18:00 num verdadeiro tasco. Alfa às 19:00.

E, posto isto, não é que não consegui adormecer na viagem de regresso, e tive de vir a gramar com o programa de culinária do Chefe Hélio?!

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Tuesday, March 25, 2008

Atingido mais um marco histórico na vida do Estado da Coisa: binte e cíncu mile!


Há visitas que a razão desconhece.


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Monday, March 24, 2008

A melhor metáfora para a minha profissão, vinda do outro lado do Atlântico:

«Consultor é como puta: recebe por hora, faz o que o cliente quer, na hora que quer e quem leva a grana é o cafetão*.»

* para quem não vê novelas, cafetão é chulo...

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Friday, March 21, 2008

Porque raio tenho eu um blog?

A pergunta foi-me lançada há uns dias pela Tita, na sequência de mais uma corrente blogosférica.

Demorei a responder. Não por preguiça, mas porque de facto não sabia a resposta. Exigiu alguma introspecção e viagens ao passado, na busca racional do motivo. Não foi fácil, porque o motivo era essencialmente emocional, percebo-o agora.

Começando pelo princípio. Porque decidi dar vida a um blog? Estávamos no ano de 2003. Muito recentemente a minha vida tinha dado uma vida de 180º: havia saído de casa dos pais e como tal mudara de casa, mudara de emprego, mudara de carro, mudara de namorada e, consequentemente, mudara também de penteado e estilo de sapatos. Entre outras coisas. Ora tudo isto, quando acontece em simultâneo, provoca algum stress.

Vai daí, precisava de um escape para todo o turbilhão emocional. Estava a nascer esse fenómeno dos blogs e decidi criar um com o nome O Estado da Coisa. Porquê o nome? Porque o objectivo era dizer mal do estado de tudo e mais alguma coisa, como facilmente se percebe pelos primeiros posts. Apesar de me sentir feliz com as mudanças da vida, passei por uma fase em que interiormente me tornei algo amargo, negativo, arrogante e maldizente. Talvez para melhor gerir algumas dificuldades de redenção, mas isso é outra conversa e não dava outro post, dava um livro.

Depois o tempo passou. E fui alimentando o blog com todo o tipo de conteúdos, sem qualquer espécie de linha condutora. Ora com humor (pelo menos tentei), ora com uma crítica, ora com o descarregar de uma neurose, ora com um cheiro bipolar. Fases com maior e menor criatividade, maior ou menor disponibilidade, tentando sempre manter alguma regularidade. Privilegiei sempre o anonimato para o público em geral, pois seria um espaço para livremente deixar fluir o alter-ego, sem receio de prejudicar a imagem pública e profissional.

A outra pergunta é: porque mantenho o blog? Coloquei a mim mesmo a questão uma vez, pois achei que nada mais tinha a dizer e, como resultado, convidei o Sermente a integrar este espaço. Achei que poderia dar uma outra vida, com as suas filosofias superiores e pensamentos duais que só ele é capaz. Apesar da pouca regularidade que o mesmo faz questão que o defina, a escolha não podia ter sido mais acertada.
Este blog não é famoso na rede. Está prestes a atingir as 25000 visitas, o que é pouco, tendo em conta que tem quase 5 anos completos. E tendo em conta também que a maior parte das visitas vem cá parar ao engano, à procura de pornografia.

É lido por meia dúzia de amigos (vá lá, uma dúzia) e por outra meia dúzia que cá veio parar e, por penitência ou masoquismo, continua a voltar. Também é verdade que nunca foi feito qualquer esforço para publicitar este espaço. Nem sequer pelo recurso à técnica mais simples que é visitar blogs de grande afluência e deixar lá o comentário bem pensado, despertando a curiosidade das plateias. Nem escrevendo comercialmente para a mesma.

Quanto aos que leio são muitos, mas não comento. Entro e saio despercebido como quem vai a uma festa de alguém que já tem muitos amigos e então faz questão de se manter a um canto, observando e sem disputar o protagonismo no meio de tanto comensais.
Há apenas meia dúzia (vá lá, uma dúzia) de blogs que comento. De amigos, que por pena minha não são muito regulares. E também de pessoas que não conheço pessoalmente, mas que pela forma de pensamento e/ou escrita, sinto empatia e por isso vou mantendo contacto, ainda que nem sempre comente os seus textos, como é o caso de quem me colocou a pergunta de hoje. E não comento muito porque muitas vezes não há o que comentar e não gosto de dizer-alguma-coisa-pela-obrigação-de-dizer-presente-embora-não-tenha-nada-para-dizer-e-tenha-acabado-de-estragar-um-post-porreiro-com-um-comentário-de-merda.

Mantenho o blog por persistência. E por me dar gozo ler coisas que escrevi há anos e me dão, hoje, uma certa sensação de vergonha. E me lembram os sentimentos da altura. É o diário que nunca tive em puto. Eu, que nem sequer tenho álbum de fotografias e nunca fui dado a registos do passado.

Como tudo, talvez um dia coloque o último ponto final. Imagino-me a imprimir todos os posts e a guardá-los numa gaveta. Sou um nostálgico. Um saudosista. Mas isso só um dia.

P.S. Sermente, voltei a dar-lhe nas linhas. Se não gostas do romance, tens de colocar o 112 mais à mão.

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Monday, March 17, 2008

Quase me esquecia de falar neste maravilhoso fim de semana

Uma escapadela ao Minho, mais propriamente à Póvoa do Lanhoso. Alojamento no Hotel Rural Maria da Fonte (não é a Quinta do Esquilo nem a Casa do Rio Vez, mas tem umas suites jeitosinhas). Jantar no Restaurante Velho Minho (grande Polvo à Lagareiro, belo Quinta do Vallado). Festa na Vila. Concerto dos Anjos. Fugir para Prado. Um salto de 20 quilómetros para descobrir um belo bar, ver um concerto e dar um abraço a estes senhores. Regresso à Póvoa do Lanhoso. Passar bebido por uma aparatosa Operação Stop da BT sem ser mandado parar. Acordar o senhor do Hotel às 3 da manhã porque as portas afinal fechavam à meia noite. Uma noite "do amor". Dia seguinte, uma manhã de ressaca. E para a combater, uns maravilhosos Rojões à Moda do Minho, acompanhados das famosas Papas de Sarrabulho, no famoso Restaurante Cruzeiro na Abadia.

Todos os fins de semana deviam ser assim.

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Governo apresenta Projecto Lei para proibir piercings e tatuagens



Já tudo foi dito sobre o tema por essa blogosfera fora. Em resumo: proibição total de furos e tatuagens a menores de 18 anos e proibição a todas as idades de furar a língua e a genitália. O argumento: «questões de saúde», ainda que o Secretário de Estado tenha deixado fugir, por pressão jornalística, a expressão «também por uma questão de bom gosto».

A atitude autocrática e a presunção de bom gosto são reveladoras da pobreza de espírito deste pobre coitado. Porque, já que se fala em bom gosto, se os senhores do Governo tivessem vida sexual activa e se fossem presenteados com um belo de um fellatio acompanhado de piercing, talvez pensassem duas vezes. Mas são muitos -se's-.

E que tal ressuscitar este belo símbolo da Mocidade Portuguesa, uma coisa tão nacional, de valores firmes, bom gosto, e obrigar a juventude rasca a bordá-lo na lapela do blazerzinho, ãh?

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Em resposta ao último post

Tenho a dizer que, apesar de satisfeito pelo (mais um) regresso do sócio, não cedo a pressões nem dele nem dos infiéis leitores que lhe foram fazer queixinhas, para me limitarem o número de linhas. As linhas escritas, é a essas que me refiro.

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Sunday, March 16, 2008

Ora bem,
- Dá licença, doutor?

Antecipei o meu regresso por ter recebido alguns e-mails da frequente freguesia, que me alertavam para o perigo de tu, um dia destes, escreveres um romance neste blog, dado que os teus posts têm ultrapassado, com alguma frequência, os 3 mil caracteres. As preocupações parecem-me de todo relevantes, embora não pactue com insinuações de que poderá tratar-se do abuso de estupefacientes, falta de atenção feminina ou mesmo contingências da nova actividade profissional. Apesar de tudo isto, venho disponibilizar todo o meu afecto e amizade e tentar que a ordem se restabeleça para bem de todos e tranquilidade da freguesia.

Sermente (112)

Thursday, March 13, 2008

«Ó S'tôr» II

E, claro, tive de os praxar nesse primeiro dia. Uma lista extensa de bibliografia que nem sequer conheço, apenas para os pôr a suar até à próxima aula.

E, no final da lista, um livro muito especial. A cereja no topo do bolo: «Entrevistas Para Totós». Adorei as expressões da malta.

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«Ó S'tôr!» I

Ontem foi a minha primeira aula académica como docente. E chego à conclusão que estou demasiado formatado para o contexto profissional. A certa altura, senti que tenho de fazer um sério esforço para adaptar a linguagem e os próprios conceitos ao meu novo público: 40 putos dos 17 aos 22 anos. Porque o que para nós é básico derivado do treino da experiência, para eles não é. Exemplo: quando se fala em "visão integrada" é preciso ter dois cuidados. Explicar o que é "visão" e explicar o que é "integrada".

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Sintoma de cansaço

Adormecer no Metro é normal. Agora, adormecer no Metro quando vamos de pé nem tanto.

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Wednesday, March 12, 2008

Um dia especial

Há 32 anos atrás nasceu no Minho o verdadeiro Messias.

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Tuesday, March 11, 2008

Uma atitude pedagógica

Aqui o meu louvor ao Soldado Rodrigues da Brigada de Trânsito. Mandou-me encostar esta manhã à entrada de Coimbra, para me alertar que inseriu a matrícula do meu carro no computador e acusou que a Inspecção Periódica Obrigatória não estava realizada no prazo legal. De seguida, pediu-me os documentos e emitiu-me uma coima de 250 euros. Mais: alertou-me para ter cuidado, pois apesar de ter 15 dias para pagar, se tivesse um acidente a Seguradora podia recusar-se a assumir. Um amor, este homem.

Ficamos a sorrir um para o outro. Ele a tentar imaginar porque eu sorria. Eu a imaginar que ele pensava: «Já te fodi». Agradeci. E disse-lhe que o que me valia era que ele não conseguia ler pensamentos.

Nota: o desconhecimento da Lei não justifica o seu incumprimento. Certo. Mas o meu carro só fez 4 anos há 11 dias. Eu sabia lá que o prazo era de 4 anos. E não devia a Citroen, como parte do serviço, avisar os seus clientes deste facto, já que um gajo lá vai levar o guito todas as revisões? Um postalzinho, uma SMS... eu vou dizer-lhes na próxima sondagem de avaliação de satisfação.

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Saturday, March 08, 2008

Recomendações vinícolas

O meu sócio anda a ficar um expert nesta área, e por isso deixo aqui, para ele e todos os leitores, a recomendação de dois excelentes vinhos tintos que descobri nestes últimos dias:

Dom Martinho 2004 (um alentejano da Quinta do Carmo)
J.F. Lurton 2006 (um argentino da casta Malbec)

O primeiro foi oferecido, por isso ainda não sei, mas o segundo pode-se comprar aqui.

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Friday, March 07, 2008

Ou se calhar até não…

Ontem choraminguei um pouco relativamente às desvantagens da consultoria, com alguma nostalgia do contexto intra.
No entanto, umas horas após escrever o último post, voltei a sentir através da cara-metade as desvantagens in-house.

Há quase um ano atrás, explorei aqui as diferenças entre estas duas lógicas de trabalho e não me pretendo repetir. Apenas acrescentar que o facto de executar serviços técnicos após a fase política da venda interna das intervenções, tem o seu quê de conforto, apesar das desvantagens ao nível do desenvolvimento e polivalência de competências, nomeadamente políticas. Porque não se têm de lidar com algumas coisas complicadas de gerir emocionalmente. Como despedir pessoas.

Já o fiz dezenas de vezes no passado e sei o que é. Já despedi um tipo ao final de 15 dias de trabalho, por um erro grosseiro que cometeu, e que demonstrou imaturidade e irresponsabilidade extremas. Decisão minha, sem pressões, mas que ainda assim, apesar de exteriormente inflexível na decisão para com o próprio, me levou alguns dias a digerir. Porque tinha ido buscá-lo a uma grande empresa, onde tinha uma posição e antiguidade consideráveis. E, de repente, ficou desempregado.
Mas há ainda bem pior. Quando não temos a autonomia suficiente para fazermos apenas aquilo que queremos e achamos justo. E, assim, temos de despedir 5 homens que fazem parte da mobília da casa, por imposição de uma Administração, quando o motivo não nos parece justificável para um despedimento, mas apenas para um outro tipo de penalização / repreensão. Também já me aconteceu. Argumentámos, mas quem manda mostra-se completamente irredutível.

E nós executámos, como teve de fazer ontem a cara-metade. E como eu fiz, um dia, com esses 5 homens. Violámos os nossos princípios de integridade, agredimos o nosso sentido de justiça. Tudo por falta de coragem em negar fazer algo que não concordámos e por consideração àqueles que são os nossos compromissos pessoais e familiares. Todos precisámos do emprego. Desta forma, garantimos que mantemos o nosso. Mas a gestão emocional dos nossos actos revela-se difícil. Não conseguimos deixar de empatizar com os alvos da nossa acção, pensamos nas consequências para eles, e por vezes demora anos a atingir a redenção do que não conseguimos deixar de considerar um pecado.

Conclusão de hoje: trabalhar com e gerir a vida de pessoas não é fácil. Mas nada o é. E, como dizia o Gonçalo, «é mais feliz quem ignora».
Acho que, no fundo, às vezes não me apetece é fazer nada. O meu projecto de carreira deveria passar por vender sandálias de couro feitas à mão pelas praias da Jamaica. Isso sim, era bonito.

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Thursday, March 06, 2008

Ninguém paga a ninguém

Trabalho com seis empresas diferentes na área da consultoria RH, em projectos vários: formação comportamental, recrutamento de pessoal, implementação e revisão de sistemas de gestão de desempenho baseados em indicadores de competências e objectivos, diagnósticos de clima organizacional, definição de planos de remuneração e benefícios com valoração de postos de trabalho e restante outsourcing.
Cada uma destas empresas especialistas tem os seus clientes. E às vezes também disputam os mesmos, o que me obriga a alguma gestão ética, porque acontece de aparecer no mesmo cliente por mais do que um fornecedor.

Dos serviços que presto advém uma remuneração bruta “à peça / hora”, da qual o Estado me cobra 21% de IVA, retém 20% de IRS e chula quase 200 eurinhos fixos à Segurança Social (que só são contabilizados para reforma, porque baixa médica ou desemprego é mentira!). Mas isto dava outro post.

A questão é a cadeia de pagamento. O cliente do cliente do meu cliente (perceberam?) não paga dentro do prazo negociado as facturas do serviço que lhe é prestado / produto que lhe é fornecido. Logo, o cliente do meu cliente também se atrasa no pagamento do serviço de recursos humanos. Logo, o meu cliente também demora a pagar o serviço que subcontratou. E eu, no talho e no supermercado, tenho de pagar a pronto. Não está certo.
O grande não paga ao médio e este não paga ao pequeno. O pequeno, apesar dos meus 188 cm, neste caso sou eu.

Compreendo que os meus clientes não possuam fundo de maneio para me assegurar o pagamento. Compreendo que nem o queiram ter, porque uma conta caucionada implica juros que num instante lhes comia a margem do negócio. Compreendo até que, quando tenho informação privilegiada e sei que o cliente deles pagou, precisem de direccionar a liquidez para outras prioridades. Mas o que não compreendo é que me peçam o recibo para «agilizar o processo» e depois o pagamento demore vários pares de meses. E chateia-me receber declarações de rendimentos 2007 de dinheiro que ainda não foi liquidado. Podiam aproveitar o envelope e anexar o cheque. É que entretanto já paguei IVA’s trimestrais de dinheiro que, aos olhos do Estado, já recebi. O engraçado é que esta cadeia também começa no próprio Estado. O facto da C.M. Lisboa dever 600 milhões, implica directa e indirectamente centenas de empresas e milhares de pessoas. Que, no fundo da cadeia, como eu, não se podem atrasar nas suas contas. E agora a piada: nem sequer ao Estado. Porreiro, pá.

Qual é o limite? Pus-me a pensar nisso ao olhar para a minha Contabilidade e perceber que o dinheirito que ainda não veio e já devia ter vindo dá quase para um popó! Mas aí tem de entrar o jogo de cintura: se é certo que quero receber como as pessoas normais, também é certo que não posso entrar de carrinho. Porque até me pagam num instante, mas arrisco a que deixem de me contratar os serviços.

Sinto-me uma puta ripada. Duas notas finais: felizmente, nem todos os meus seis clientes são assim, senão já vivia debaixo da ponte; e que saudades dos tempos em que tinha direito a 14 salários por 11 meses de trabalho.

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Monday, March 03, 2008

Rio Tinto, essa bela localidade

Cresci em Rio Tinto, uma cidade dormitório na zona este do Grande Porto. Lá vivi parte da minha infância e juventude, mais precisamente dos 8 aos 27 anos.
Rio Tinto tem 1% dos eleitores nacionais e é uma das zonas com maior densidade populacional do país. Vive lá gente até dar com um pau, mas no entanto não tem lá nada: nem hospital, nem tribunal, nem porra nenhuma. Isso fica na capital do concelho, Gondomar. Mas Gondomar não é Rio Tinto. O tanas!
Admito que, para quem é de fora, a terra nada tem de encanto. Porque é um facto e contra este não há argumentos. Rio Tinto tem de sobra vigaristas, parolo(a)s, gente feia, broncos, desdentados, analfabetos, burlões, porco(a)s, etc. É só dar um passeio pelo Parque Nascente e aferir a veracidade. Mas eu, talvez por estupidez natural, continuo a gostar de Rio Tinto.
Atenção que também tem gente boa e bonita. Em pequena percentagem, algures, mas tem.

Esta introdução para dizer que Rio Tinto tem uma coisa muito rara: todos os serviços que não vem nas Páginas Amarelas. É preciso um auto-rádio barato? Um leitor de DVD ainda na caixa? Uma ganzinha de primeira? Um tipo para instalar a TV Cabo lá no prédio? Dois gunas para partir as pernas a um tipo? Ah e tal, conheço um gajo em Rio Tinto que desenrasca essa merda. É certinho.

Eu já não vivo em Rio Tinto há uns 5 anos. Mas faço por manter o contacto com a malta, indo beber um copo ao famoso Bianchi Cafe sempre que vou jantar a casa dos meus pais ou quando a cara-metade se pira para Lisboa e me deixa a agenda social por preencher. Mas não é a mesma coisa, porque se vão perdendo estes contactos de luxo. Um dia destes perguntei lá a um amigo: «Olha lá, o H. ainda desbloqueia telemóveis*? Tenho um E50 agarrado à Vodafone». «Não, agora tem um stand de carros marados da Alemanha na Circunvalação. Mas há uma casa de telemóveis ali na [...] que desenrasca isso por 5 euros». E lá fui eu no dia seguinte. Naquela zona, era a única casa comercial que vendia telemóveis. Muitos metros quadrados, ar profissional, todos os operadores à venda, pay-shop... «Se calhar não é aqui» pensei. E meio envergonhado, atrevi-me a perguntar: «Disseram-me que aqui desbloqueavam telemóveis». «Sim, sim», resposta pronta. Ainda tentei explicar que era o telefone profissional da minha namorada, que mo tinha dado, porque agora a empresa lhe deu outro e deixou-a ficar com aquele, mas que a minha rede é Optimus e só por isso queria desbloquear, que não era roubado...
Mas o tipo não quis saber. Levou o aparelho às traseiras do estabelecimento, demorou 10 minutos, cobrou-me 10 euros (então não eram cinco?!) e deu-me um recibo onde se lia: «Limpeza do software».

Em mais nenhum lado existe candonguice com o nível de profissionalização de Rio Tinto. E mai'nada.

* O H., em 1998, enriqueceu a desbloquear telemóveis. Fazia-se fila à porta de casa dos pais e a mãe abria a porta. Uma noite, um tipo também da terra deixou uma carrinha BMW série 5 estacionada à porta de sua casa, entregou-lhe a chave e disse que, de manhã, viria buscar os telemóveis que estavam na mala. Eram 400, na caixa, acabados de chegar de Bragança. O H. que cobrava 2 contos a unidade fez obviamente desconto. O H. também não é ladrão.

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