Ou se calhar até não…
Ontem choraminguei um pouco relativamente às desvantagens da consultoria, com alguma nostalgia do contexto intra.
No entanto, umas horas após escrever o último post, voltei a sentir através da cara-metade as desvantagens in-house.
Há quase um ano atrás, explorei aqui as diferenças entre estas duas lógicas de trabalho e não me pretendo repetir. Apenas acrescentar que o facto de executar serviços técnicos após a fase política da venda interna das intervenções, tem o seu quê de conforto, apesar das desvantagens ao nível do desenvolvimento e polivalência de competências, nomeadamente políticas. Porque não se têm de lidar com algumas coisas complicadas de gerir emocionalmente. Como despedir pessoas.
Já o fiz dezenas de vezes no passado e sei o que é. Já despedi um tipo ao final de 15 dias de trabalho, por um erro grosseiro que cometeu, e que demonstrou imaturidade e irresponsabilidade extremas. Decisão minha, sem pressões, mas que ainda assim, apesar de exteriormente inflexível na decisão para com o próprio, me levou alguns dias a digerir. Porque tinha ido buscá-lo a uma grande empresa, onde tinha uma posição e antiguidade consideráveis. E, de repente, ficou desempregado.
Mas há ainda bem pior. Quando não temos a autonomia suficiente para fazermos apenas aquilo que queremos e achamos justo. E, assim, temos de despedir 5 homens que fazem parte da mobília da casa, por imposição de uma Administração, quando o motivo não nos parece justificável para um despedimento, mas apenas para um outro tipo de penalização / repreensão. Também já me aconteceu. Argumentámos, mas quem manda mostra-se completamente irredutível.
E nós executámos, como teve de fazer ontem a cara-metade. E como eu fiz, um dia, com esses 5 homens. Violámos os nossos princípios de integridade, agredimos o nosso sentido de justiça. Tudo por falta de coragem em negar fazer algo que não concordámos e por consideração àqueles que são os nossos compromissos pessoais e familiares. Todos precisámos do emprego. Desta forma, garantimos que mantemos o nosso. Mas a gestão emocional dos nossos actos revela-se difícil. Não conseguimos deixar de empatizar com os alvos da nossa acção, pensamos nas consequências para eles, e por vezes demora anos a atingir a redenção do que não conseguimos deixar de considerar um pecado.
Conclusão de hoje: trabalhar com e gerir a vida de pessoas não é fácil. Mas nada o é. E, como dizia o Gonçalo, «é mais feliz quem ignora».
Acho que, no fundo, às vezes não me apetece é fazer nada. O meu projecto de carreira deveria passar por vender sandálias de couro feitas à mão pelas praias da Jamaica. Isso sim, era bonito.
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