Tuesday, February 26, 2008

E, a pedido de várias famílias, cá vai um novo post para lavar a alma. O título: Dourar a pílula

Para mim, existe uma coisa que são os amigos profissionais. Os amigos profissionais não são, verdadeiramente amigos, mas são mais do que colegas. São pessoas com quem existe cooperação, à-vontade, entreajuda, honestidade, solidariedade, mas apenas a um nível profissional. São pessoas que não conhecem, nem pretendo que conheçam, a minha vida pessoal: os meus hábitos, os meus gostos, as minhas relações. Obviamente, também não lêem este blog. Quando acontece um amigo profissional começar a ler este blog, porque com ele partilhei o endereço, é porque lhe mudei o rótulo e agora já não é apenas um amigo profissional.

Adiante. Tenho alguns amigos profissionais. E, hoje, um desiludiu-me. Ele era, até ontem, um Director Regional de Desenvolvimento de um conhecido grupo de consultoria. Que é, também, meu cliente. Convidou-me para um café para me comunicar que iria abandonar o projecto por desentendimento com a Administração. «Eu fiz isto...», «Eu disse-lhes aquilo...», «Bem me imploraram para não sair, mas coloquei logo o lugar à disposição porque não admito que me questionem resultados, comigo ninguém faz farinha...», etc.
Hoje, em conversa com outro Director dessa empresa, alguém sem grande competência política que obviamente nunca leu Hemingway («O Homem precisa de 3 anos para aprender a falar e de 10 vezes mais para aprender a calar-se»), diz-me que gostaria de continuar a colaborar comigo, independentemente da saída do outro Director que era o meu link interno. Sim senhor, é o que a malta quer. E depois, sem que lhe perguntasse nada, continua: «É uma vergonha o que esta Administração fez com o A., ele que ajudou este grupo a nascer. É uma questão de forma, onde não lhe deram oportunidade. Nem teve tempo de ver o que lhe bateu. Estou solidário com o A. porque nas costas dos outros vemos as nossas, e quem cá fica não deixa de pensar que um dia será a nossa vez.»

Para a mesma fábula existem duas versões. Caricato mas não original. E a pergunta que hoje se coloca é: porque temos dificuldade em assumir publicamente que fomos despedidos? Porque questiona a nossa competência, dirão alguns. É preferível dourar a pílula até porque uma mentira repetida muitas vezes torna-se verdade. E precisamos dessa verdade para viver com a frustração.
O tanas! Só se a auto-estima for muito baixinha. Aliás, um despedimento é um grande passo no processo de aprendizagem. Eu próprio tenho orgulho em dizer: já fui, em tempos, despedido. E espero voltar a sê-lo. Corria o ano de 2004, a administradora de um grupo têxtil, tomou posse e logo rapidinho concluíu que eu era um nabo e um perigo para a estabilidade do seu capital humano, logo toca a correr com ele. E eu lá fui. E não foi por isso que me convenci que era incompetente.

As opiniões são como as vaginas. Cada qual tem a sua e quiser dá-la... dá-la!

E é a nossa auto-confiança que nos faz continuar. Existem umas quantas teorias da motivação... Maslow, Herzberg, Vroom e outros, dissecam os factores externos que nos motivam. Para mim? tudo TRETA! A motivação que cada um de nós se tem de agarrar é intrínseca e sai cá de dentro. Porque no fim do dia de trabalho não vejo ninguém com bandeirinhas a gritar em côro o meu nome. O no dia seguinte a luta continua, inspirando fundo e com um sorriso nas beiças.

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