Monday, March 03, 2008

Rio Tinto, essa bela localidade

Cresci em Rio Tinto, uma cidade dormitório na zona este do Grande Porto. Lá vivi parte da minha infância e juventude, mais precisamente dos 8 aos 27 anos.
Rio Tinto tem 1% dos eleitores nacionais e é uma das zonas com maior densidade populacional do país. Vive lá gente até dar com um pau, mas no entanto não tem lá nada: nem hospital, nem tribunal, nem porra nenhuma. Isso fica na capital do concelho, Gondomar. Mas Gondomar não é Rio Tinto. O tanas!
Admito que, para quem é de fora, a terra nada tem de encanto. Porque é um facto e contra este não há argumentos. Rio Tinto tem de sobra vigaristas, parolo(a)s, gente feia, broncos, desdentados, analfabetos, burlões, porco(a)s, etc. É só dar um passeio pelo Parque Nascente e aferir a veracidade. Mas eu, talvez por estupidez natural, continuo a gostar de Rio Tinto.
Atenção que também tem gente boa e bonita. Em pequena percentagem, algures, mas tem.

Esta introdução para dizer que Rio Tinto tem uma coisa muito rara: todos os serviços que não vem nas Páginas Amarelas. É preciso um auto-rádio barato? Um leitor de DVD ainda na caixa? Uma ganzinha de primeira? Um tipo para instalar a TV Cabo lá no prédio? Dois gunas para partir as pernas a um tipo? Ah e tal, conheço um gajo em Rio Tinto que desenrasca essa merda. É certinho.

Eu já não vivo em Rio Tinto há uns 5 anos. Mas faço por manter o contacto com a malta, indo beber um copo ao famoso Bianchi Cafe sempre que vou jantar a casa dos meus pais ou quando a cara-metade se pira para Lisboa e me deixa a agenda social por preencher. Mas não é a mesma coisa, porque se vão perdendo estes contactos de luxo. Um dia destes perguntei lá a um amigo: «Olha lá, o H. ainda desbloqueia telemóveis*? Tenho um E50 agarrado à Vodafone». «Não, agora tem um stand de carros marados da Alemanha na Circunvalação. Mas há uma casa de telemóveis ali na [...] que desenrasca isso por 5 euros». E lá fui eu no dia seguinte. Naquela zona, era a única casa comercial que vendia telemóveis. Muitos metros quadrados, ar profissional, todos os operadores à venda, pay-shop... «Se calhar não é aqui» pensei. E meio envergonhado, atrevi-me a perguntar: «Disseram-me que aqui desbloqueavam telemóveis». «Sim, sim», resposta pronta. Ainda tentei explicar que era o telefone profissional da minha namorada, que mo tinha dado, porque agora a empresa lhe deu outro e deixou-a ficar com aquele, mas que a minha rede é Optimus e só por isso queria desbloquear, que não era roubado...
Mas o tipo não quis saber. Levou o aparelho às traseiras do estabelecimento, demorou 10 minutos, cobrou-me 10 euros (então não eram cinco?!) e deu-me um recibo onde se lia: «Limpeza do software».

Em mais nenhum lado existe candonguice com o nível de profissionalização de Rio Tinto. E mai'nada.

* O H., em 1998, enriqueceu a desbloquear telemóveis. Fazia-se fila à porta de casa dos pais e a mãe abria a porta. Uma noite, um tipo também da terra deixou uma carrinha BMW série 5 estacionada à porta de sua casa, entregou-lhe a chave e disse que, de manhã, viria buscar os telemóveis que estavam na mala. Eram 400, na caixa, acabados de chegar de Bragança. O H. que cobrava 2 contos a unidade fez obviamente desconto. O H. também não é ladrão.

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