Friday, March 21, 2008

Porque raio tenho eu um blog?

A pergunta foi-me lançada há uns dias pela Tita, na sequência de mais uma corrente blogosférica.

Demorei a responder. Não por preguiça, mas porque de facto não sabia a resposta. Exigiu alguma introspecção e viagens ao passado, na busca racional do motivo. Não foi fácil, porque o motivo era essencialmente emocional, percebo-o agora.

Começando pelo princípio. Porque decidi dar vida a um blog? Estávamos no ano de 2003. Muito recentemente a minha vida tinha dado uma vida de 180º: havia saído de casa dos pais e como tal mudara de casa, mudara de emprego, mudara de carro, mudara de namorada e, consequentemente, mudara também de penteado e estilo de sapatos. Entre outras coisas. Ora tudo isto, quando acontece em simultâneo, provoca algum stress.

Vai daí, precisava de um escape para todo o turbilhão emocional. Estava a nascer esse fenómeno dos blogs e decidi criar um com o nome O Estado da Coisa. Porquê o nome? Porque o objectivo era dizer mal do estado de tudo e mais alguma coisa, como facilmente se percebe pelos primeiros posts. Apesar de me sentir feliz com as mudanças da vida, passei por uma fase em que interiormente me tornei algo amargo, negativo, arrogante e maldizente. Talvez para melhor gerir algumas dificuldades de redenção, mas isso é outra conversa e não dava outro post, dava um livro.

Depois o tempo passou. E fui alimentando o blog com todo o tipo de conteúdos, sem qualquer espécie de linha condutora. Ora com humor (pelo menos tentei), ora com uma crítica, ora com o descarregar de uma neurose, ora com um cheiro bipolar. Fases com maior e menor criatividade, maior ou menor disponibilidade, tentando sempre manter alguma regularidade. Privilegiei sempre o anonimato para o público em geral, pois seria um espaço para livremente deixar fluir o alter-ego, sem receio de prejudicar a imagem pública e profissional.

A outra pergunta é: porque mantenho o blog? Coloquei a mim mesmo a questão uma vez, pois achei que nada mais tinha a dizer e, como resultado, convidei o Sermente a integrar este espaço. Achei que poderia dar uma outra vida, com as suas filosofias superiores e pensamentos duais que só ele é capaz. Apesar da pouca regularidade que o mesmo faz questão que o defina, a escolha não podia ter sido mais acertada.
Este blog não é famoso na rede. Está prestes a atingir as 25000 visitas, o que é pouco, tendo em conta que tem quase 5 anos completos. E tendo em conta também que a maior parte das visitas vem cá parar ao engano, à procura de pornografia.

É lido por meia dúzia de amigos (vá lá, uma dúzia) e por outra meia dúzia que cá veio parar e, por penitência ou masoquismo, continua a voltar. Também é verdade que nunca foi feito qualquer esforço para publicitar este espaço. Nem sequer pelo recurso à técnica mais simples que é visitar blogs de grande afluência e deixar lá o comentário bem pensado, despertando a curiosidade das plateias. Nem escrevendo comercialmente para a mesma.

Quanto aos que leio são muitos, mas não comento. Entro e saio despercebido como quem vai a uma festa de alguém que já tem muitos amigos e então faz questão de se manter a um canto, observando e sem disputar o protagonismo no meio de tanto comensais.
Há apenas meia dúzia (vá lá, uma dúzia) de blogs que comento. De amigos, que por pena minha não são muito regulares. E também de pessoas que não conheço pessoalmente, mas que pela forma de pensamento e/ou escrita, sinto empatia e por isso vou mantendo contacto, ainda que nem sempre comente os seus textos, como é o caso de quem me colocou a pergunta de hoje. E não comento muito porque muitas vezes não há o que comentar e não gosto de dizer-alguma-coisa-pela-obrigação-de-dizer-presente-embora-não-tenha-nada-para-dizer-e-tenha-acabado-de-estragar-um-post-porreiro-com-um-comentário-de-merda.

Mantenho o blog por persistência. E por me dar gozo ler coisas que escrevi há anos e me dão, hoje, uma certa sensação de vergonha. E me lembram os sentimentos da altura. É o diário que nunca tive em puto. Eu, que nem sequer tenho álbum de fotografias e nunca fui dado a registos do passado.

Como tudo, talvez um dia coloque o último ponto final. Imagino-me a imprimir todos os posts e a guardá-los numa gaveta. Sou um nostálgico. Um saudosista. Mas isso só um dia.

P.S. Sermente, voltei a dar-lhe nas linhas. Se não gostas do romance, tens de colocar o 112 mais à mão.

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