Thursday, November 27, 2003

O Estado das Pessoas nas Organizações

Fui assaltado por um pensamento esta manhã quando assistia como convidado a uma qualquer conferência na área da Gestão de Recursos Humanos, daquelas feitas em hotéis, com bolinhos e sumo, em que as consultoras convidam os seus clientes para dar graxa, confraternizar, criar conhecimentos (leia-se futuras redes de influência) e dizer mal dos que faltaram.

Como sempre, o tédio e a ressaca foram combatidos contando o número de vezes que os oradores repetiam os termos em voga: gerar mais-valias (37 vezes), sinergias (29 vezes), gestão de mudança (17 vezes). O bingo saiu logo à bola 35!

De modo a massajar o ego da maioria dos participantes, ego esse massacrado pelas sucessivas frustrações de cariz sexual e/ou libidinoso, muito se falou na importância dos recursos humanos e na sua correcta gestão, sendo este o recurso mais precioso nas organizações. Obviamente, concordo com a teoria. Só é pena os teóricos e visionários, iludidos pela sua arrogância, não saberem a posteriori como implementar tão belos pensamentos estratégicos, não terem a mestria de motivar e delegar em cascata os tais recursos, nem serem capazes de prever entropias óbvias.

Mas isso é outra missa. O que queria partilhar é que foi neste contexto que o meu limitado cérebro sofreu uma violenta sinapse: se os recursos humanos são o capital mais rico das organizações, porque raio sempre que uma empresa reduz os seus efectivos, as suas cotações em bolsa sobem em flecha? Estranha matemática...

Monday, November 24, 2003

O Estado da Greve da Função Pública

Momento raro: nas próximas linhas vou defender o interesse público em detrimento do interesse privado! Então não é que estou eu no sofá, entretido de telecomando na mão a fazer zapping e não se vê outra coisa, a não ser a honrada greve dos funcionários públicos? Comecei a delirar e imaginar um slogan para tão respeitada manif: «Ordenados sim, trabalho não!»

Quem ganhou com a greve foi o orçamento de Estado: consta que em salários foram poupados 3.500.000,00 € com apenas um dia de greve, não existindo qualquer oscilação na produtividade do sector (óbvio...).

Proponho mais 3 ou 4 dias de greve, a ver se a ministra Ferreira Leite consegue manter o défice abaixo dos 3%. Se contabilizarmos ainda o que se poupa em chamadas pessoais para telemóveis feitas a partir do serviço, ainda conseguimos a muito breve prazo comprar uns 2 submarinos para o Portas!

Quem perde são os cafés da esquina, que deixam de vender as torradas e os galões que os funcionários públicos lá vão tomar todas as manhãs... claro está, após picarem o ponto!

Thursday, November 20, 2003

O Estado da Nossa Selecção

Puta que os pariu a todos. Estão em festa porque ganharam por 8-0 ao... Kuwait! Os mouros (os do Kuwait) ainda não compreenderam na totalidade todas as regras do jogo, são tão fracos tecnica e fisicamente que até uma equipita de bairro organizada por um voluntarioso lhes dava uma mão cheia. Os homens estão inclusivé no Ramadão, por amor de Alá! Não podem comer ou beber (!!!) antes do pôr-do-sol! Grande vitória, Scolari...

Realmente é contra equipas como esta que preparamos a nossa para o Europeu, é a bater em mortos ou tirar chupas a crianças... foi uma demonstração de necessidade de auto-massagem ao ego. Grande método, Scolari...

A culpa é mais de quem o pôs lá, sabendo que esse bronco brasileiro enquanto não levar com um sarrafo pelos cornos abaixo há-de ter sempre a mania que é ditador. Sem opinar acerca da convocação de jogadores, exemplifico apenas que contra a Grécia vi lá os brutinhos Beto e Caneira mas não vi o melhor central português, Ricardo Carvalho, entre outros casos crónicos.

Não é a motivação o mais importante numa equipa de futebol? Um pouco de história contemporânea: o Tó Oliveira fez das coisas mais bonitas quando o Poborsky mandou o Baía à merda e deitou por terra as aspirações lusas. Uns anos depois, no Mundial da Coreia os jogadores boicotaram-no e foi a chiga que foi! O Scolari nem o benefício da dúvida vai ter... e a entrada dele e do Deco na Selecção foi o princípio do fim. No caso do dragão, é sem dúvida um jogador fora de série mas... "internacionalizar" a selecção deitou o espírito de grupo por água abaixo.

Tudo isto não dá, contudo, o direito a paneleiros como Rui Costa e Figo (que andam a enconar no relvado) pedir apoio aos portugueses quando não querem magoar as perninhas pois a seguir tem de correr e saltar nos seus clubes para ganhar o bago que as mulheres se encarregarão de gastar com os amantes.

Tuesday, November 11, 2003

O Estado da Legalização do "Shito" (e a sua variante religiosa, biológica, estatística, cultural, ética, política e económica)

Como ateu assumido, não sou propriamente partidário da religião do messias Haile Selassie I, rei da Etiópia em 1930 (mais conhecido como Ras Tafari Makonnen) nem do estilo dreadlock e rastas subsequentes. Tou a falar dos primaços que curtem Bob Marley e que fumam umas brocas como ritual sagrado, sendo considerada a marijuana um catalisador espiritual. Esta última parte até percebo...

Biologicamente falando, existe uma planta da nossa Mãe Natureza (mãe é mãe, há que respeitá-la) cuja principal variante fêmea é a cannabis sativa, que possui uma substância química denominada THC (tetrahidrocannabinol, para os químicos C21H30O2). É consumida sob a forma fumada e transaccionada em duas variantes: haxixe (resina da planta) e marijuana (folhas secas esmagadas, vulgo erva).

A estatística diz que vários milhões de pessoas neste planeta são consumidores desta substância. Transportando para a realidade nacional, a estatística também diz que 80% do mundo académico é/foi consumidor, e talvez 20% da população, ou seja, 2 em cada 10 pessoas! Olhando à minha volta, era capaz de subir a fasquia, mas aceito o estudo.

O THC funciona basicamente como um ansiolítico natural, provocando o relaxamento. Não causa dependência física e a sua dependência psicológica é muito baixa, manifestando-se apenas após um consumo de vários anos. O tabaco provoca uma dependência 10 vezes maior. Não estão provados malefícios de elevada manifestação, tal como a perda de memória e o aumento de risco de cancro e doenças cardiovasculares. Está provado o seu poder terapêutico na prevenção e tratamento do glaucoma ocular, no despertar do apetite e como analgésico e ansiolítico. O meio científico e o próprio Estado português concordam comigo, já que é vendido nas nossas farmácias, em inédita forma de comprimidos e com o nome comercial de Marinol, mas o princípio activo é o mesmo.

Perante esta breve resenha, defendo a sua legalização, e para tal vou enumerar todas as vantagens de variadíssima ordem que via nesse processo.

- Sanidade e Desenvolvimento Social: sempre defendi a filosofia de liberdade holandesa «o nosso quadrado de liberdade termina quando pisamos o quadrado de liberdade de outro». Se sou consumidor o problema é meu, ninguém tem nada a ver com isso, desde que não prejudique ninguém com o meu hábito. As velhas mentalidades portuguesas, os cuscos e os preocupados pela vida alheia não iriam gostar, mas a isto chama-se aculturação.

- Desenvolvimento Económico: lá se ia o buraco financeiro da Manuela Ferreira Leite, se a ganza passa-se a cobrar IVA... ai que grande receita!

- Extermínio do Mundo do Crime Associado: se o Estado passasse a deter o monopólio da comercialização, acabavam-se os traficantes e os agentes da autoridade que enriquecem à custa do consumidor. O tráfico tem muitos custos e intermediários, daí o preço inflacionado. Por outro lado, se o Estado vendesse, o preço iria descer (mesmo com o IVA incluído) o que faria com que a onda de pequenos delitos cometidos para consumo fosse directamente proporcional ao preço.

- Melhoria da Qualidade: do produto. E consequentemente diminuição das doenças associadas e overdoses (no ponto anterior e neste, alargo a dissertação a todas as drogas, já que para ter uma overdose de haxixe seria necessária uma fogueira com um sabonete lá dentro).

- Aumento da Produtividade e Bem-estar Social: seria finalmente possível substituir as milhares de caixas de Prozac que se vendem em território nacional anualmente. O povo andaria contente.

- Fim da marginalização, descriminação social e vitória sobre um problema que existe actualmente e em que mais nenhuma forma de luta conseguiu vingar.