O Estado da Legalização do "Shito" (e a sua variante religiosa, biológica, estatística, cultural, ética, política e económica)
Como ateu assumido, não sou propriamente partidário da religião do messias Haile Selassie I, rei da Etiópia em 1930 (mais conhecido como Ras Tafari Makonnen) nem do estilo dreadlock e rastas subsequentes. Tou a falar dos primaços que curtem Bob Marley e que fumam umas brocas como ritual sagrado, sendo considerada a marijuana um catalisador espiritual. Esta última parte até percebo...
Biologicamente falando, existe uma planta da nossa Mãe Natureza (mãe é mãe, há que respeitá-la) cuja principal variante fêmea é a cannabis sativa, que possui uma substância química denominada THC (tetrahidrocannabinol, para os químicos C21H30O2). É consumida sob a forma fumada e transaccionada em duas variantes: haxixe (resina da planta) e marijuana (folhas secas esmagadas, vulgo erva).
A estatística diz que vários milhões de pessoas neste planeta são consumidores desta substância. Transportando para a realidade nacional, a estatística também diz que 80% do mundo académico é/foi consumidor, e talvez 20% da população, ou seja, 2 em cada 10 pessoas! Olhando à minha volta, era capaz de subir a fasquia, mas aceito o estudo.
O THC funciona basicamente como um ansiolítico natural, provocando o relaxamento. Não causa dependência física e a sua dependência psicológica é muito baixa, manifestando-se apenas após um consumo de vários anos. O tabaco provoca uma dependência 10 vezes maior. Não estão provados malefícios de elevada manifestação, tal como a perda de memória e o aumento de risco de cancro e doenças cardiovasculares. Está provado o seu poder terapêutico na prevenção e tratamento do glaucoma ocular, no despertar do apetite e como analgésico e ansiolítico. O meio científico e o próprio Estado português concordam comigo, já que é vendido nas nossas farmácias, em inédita forma de comprimidos e com o nome comercial de Marinol, mas o princípio activo é o mesmo.
Perante esta breve resenha, defendo a sua legalização, e para tal vou enumerar todas as vantagens de variadíssima ordem que via nesse processo.
- Sanidade e Desenvolvimento Social: sempre defendi a filosofia de liberdade holandesa «o nosso quadrado de liberdade termina quando pisamos o quadrado de liberdade de outro». Se sou consumidor o problema é meu, ninguém tem nada a ver com isso, desde que não prejudique ninguém com o meu hábito. As velhas mentalidades portuguesas, os cuscos e os preocupados pela vida alheia não iriam gostar, mas a isto chama-se aculturação.
- Desenvolvimento Económico: lá se ia o buraco financeiro da Manuela Ferreira Leite, se a ganza passa-se a cobrar IVA... ai que grande receita!
- Extermínio do Mundo do Crime Associado: se o Estado passasse a deter o monopólio da comercialização, acabavam-se os traficantes e os agentes da autoridade que enriquecem à custa do consumidor. O tráfico tem muitos custos e intermediários, daí o preço inflacionado. Por outro lado, se o Estado vendesse, o preço iria descer (mesmo com o IVA incluído) o que faria com que a onda de pequenos delitos cometidos para consumo fosse directamente proporcional ao preço.
- Melhoria da Qualidade: do produto. E consequentemente diminuição das doenças associadas e overdoses (no ponto anterior e neste, alargo a dissertação a todas as drogas, já que para ter uma overdose de haxixe seria necessária uma fogueira com um sabonete lá dentro).
- Aumento da Produtividade e Bem-estar Social: seria finalmente possível substituir as milhares de caixas de Prozac que se vendem em território nacional anualmente. O povo andaria contente.
- Fim da marginalização, descriminação social e vitória sobre um problema que existe actualmente e em que mais nenhuma forma de luta conseguiu vingar.
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