O Estado da Indefinição Política
Há dias, uma bendita
alma iluminada, com o seu candelabro de sapiência, apontou-me o caminho. Um verdadeiro momento zen. Vai daí e começo eu a meditar, consciencializando-me das minhas limitações e mediocridade. Homem que é homem tem orientação política e eu não consigo encontrar a minha. Pensei já ter sido bloquista e afinal fui rotulado de fascista.
Não vejo a política em termos de partidos, considero uma visão redutora. Vejo a política como um círculo em que os extremos absolutistas e ditatoriais se unem. Genericamente, não vejo uma diferença entre um Lenine e um Franco, nem entre um Castro e um Mussolini. Curiosamente, já vejo entre um Portas e um Carvalhas. O primeiro é um péssimo exemplar da comunidade gay, com fetiches de monstruosidade fálica, o segundo um parolo com ar de comuna e discurso sindicalista que é no entanto um grande capitalista de Viseu. Não me revejo em nenhuma das duas doutrinas apregoadas. A trilogia Deus, Pátria e Família diz-me tanto como isto: sou um ateu com pais católicos, cidadão do mundo envergonhado com a vizinhança do território onde nasceu. No último jantar anual do bacalhau cozido com todos (24 de Dezembro), pretexto de reunião familiar, éramos 3 almas à mesa. Na outra extremidade, o marxismo também não me convence nem um bocadinho. Não sou dado a utopias nem a contos românticos de final feliz com uma pitada de justiça social. Prefiro aqueles em que o artista morre e a mulher casa com o cavalo.
No que toca às doutrinas moderadas e centristas, o exemplo português confunde-me e tolda-me o juízo. Não vejo uma diferença entre Santana Lopes e José Sócrates. Vejo semelhanças: o show-off, o objectivo eleitoralista, a incompetência, a corrupção, as influências, quiça a maçonaria, os interesses, a cobardia, a demagogia e a estupidez em estado sólido. As políticas sem estratégia de PSD e PS fundem-se e possuem apenas ligeiras ramificações divergentes no sentido, convergentes na negatividade: uns abrem o fosso entre ricos e pobres, outros destroem as contas do Estado. De positivo, nada a registar. Compreendo que não haja orçamento possível e que os portugueses tenham grande quota parte de culpa na falta de produtividade nacional, fruto da sua cultura, ou melhor, da falta dela. Mas também compreendo que a evasão fiscal e a economia paralela não são combatidas por próprio interesse dos actores políticos e por falta de coragem face à chantagem capitalista de parir o caos social com o desemprego em massa. As medidas pequeninas como aumentar o IVA, acabar com os PP's (Plano Poupança - não confundir com populistas, nesse caso a medida seria veemente aplaudida), acabar com as bonificações à habitação, são punhados de areia atirados ao olhos ladeados de palas.
Não sou anarquista, acredito na necessidade de regras em sociedade. Mas sou liberal. Talvez um capitalista moderado, mas não usurpador e exageradamente globalizante. Acredito na liberdade de opção e expressão. Acredito que devo ter o monopólio do meu quadrado de liberdade, enquanto não esbarre no quadrado de liberdade de outro. Acredito que não possa ser multado por conduzir sem cinto, acredito que não posso ser incomodado por fumar um charro na minha esfera, acredito que posso solicitar a minha eutanásia ou promover o meu exclusivo aborto. Acredito na educação dos povos. Acredito na coragem política de tomar medidas necessárias para criar uma cultura. Acredito que Portugal teve uma democracia sem o povo estar social e culturalmente preparado para ela. Não acredito na vontade das massas, se as massas são um bando de primatas, e as políticas estão orientadas para o seu sufrágio. Acredito na democracia num povo culto e exemplifico com o contexto nórdico. Acredito na Constituição e na igualdade de oportunidades. Acredito na justiça (não nesta que temos). Acredito na compaixão. Não acredito na imposição, na corrupção e na cobardia.
Termino como comecei. Não encontro compatibilidade suficiente para a filiação. Deixemos tudo com está, na base da independência. Sou um estrangeiro em terra própria.