Monday, April 07, 2008

As ferramentas de gestão e as ideologias (ou a falta delas)

Hoje em dia não existem ideologias. Não há tempo para pensar. Tudo em prol da necessidade de aceleração para fazer face a esse fenómeno que toda a gente fala que é a globalização. A culpa é da globalização, essa coisa que ainda ninguém percebeu a quem beneficia, excepto claro aos chineses. Eu não conheço a globalização. Só sei que já existia capitalismo antes de ouvir falar nela.

Hoje em dia não existem ideologias. Contudo, intelectuais há muitos, e intelectuais são aqueles que usam mais palavras do que o necessário para dizer mais do que aquilo que eles próprios sabem. E, neste post, serei um intelectual. Os intelectuais debitam muitas ideias. Mas as ideias estão para as ideologias como os espermatozóides estão para o óvulo: há milhões, mas só um fecunda. Pior, as ideias que se tornam ideologias, com verdadeiro peso social, nunca são produto das intenções destes intelectuais.

Hoje em dia não existem ideologias. Antigamente, dizem-me, existiam referências: dois ou três autores literários, dois ou três músicos, dois ou três artistas. Hoje há um fast-food de referências que são trocadas e enterradas todas as semanas.

Hoje em dia não existem ideologias e isso nota-se na gestão. Em particular na gestão das pessoas. As ferramentas de gestão existem e toda a gente as aplica. Mas ninguém pensa na sua essência, apenas na sua existência.
Senão vejamos: com duas ou três pinceladas, a teoria da Gestão de Competências é, hoje, uma coisa que já Hitler defendia há 70 anos: a supremacia da raça ariana. Ou seja, define-se um perfil ideal para as funções, em que se não se atingem as competências necessárias (tais como o cabelo loiro e os olhos azuis)... é-se engolido pelo sistema. A teoria de Gestão de Competências, sem essência, solidariedade e subsidiariedade, não passa disto. Não me interpretem mal, pois continuo a ter uma visão economicista da gestão de pessoas. Mas uma não invalida a outra.
Assim como esse modelo da moda que é o coaching. Se continuar a ser usado como é, se não fôr visto como um modelo conceptual e sistémico, não passa de uma ferramenta básica de adestramento, tão ao gosto do velhinho Taylor na sua Revolução Industrial.

Esta é a conclusão a que hoje se chega. Bem como outra. Nunca ler Charles Handy (Era da Incerteza) ou Domenico De Masi (Economia do Ócio) sob a influência de estupefacientes.

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