Thursday, October 25, 2007

«Portugais? Portugais? Luís Figo!»

De volta. Já regressei na terça-feira, mas peguei directo no trabalhinho e o tempo ainda não tinha permitido vir a este canto partilhar convosco um pouco da viagem. E as minhas principais conclusões e memórias são:

- É um destino que se dispensa bem o operador turístico. Eu, sempre que possível, privilegio. Excursões, em carneirada, só a Fátima. No primeiro dia estranha-se, mas rapidamente se ganha uma sensação de segurança, pouco comum nos dias que correm em países árabes.

- Tudo é negociado. T-U-D-O. Desde o preço do táxi ao valor diário do rent-a-car. Como tinha hotel reservado a 70 quilómetros do aeroporto, e não tinha o luxo do transfer, lá tinha de arranjar uma maneira de me deslocar. O táxi, ainda que bem negociado, conseguia ser mais caro do que em Portugal. E como queríamos ir a diversas cidades durante a estadia, decidimos o aluguer de uma viatura. Após consulta em 4 agências do aeroporto, conseguiu-se um Fiat Uno sem a grelha frontal por 45 Dinares por dia. Qualquer coisa como 25 euros diários, quilómetros ilimitados. Com a gasolina a 1 Dinar o litro (60 cêntimos), compensa.

- Conduzir numa cidade tunisina é de homem. Na estrada, a diferença é pouca. Mas nas cidades é de meter medo. De duas faixas na estrada fazem-se 4 filas de automóveis, de todo o lado aparecem sem aviso automóveis, motorizadas, bicicletas e peões. Os da esquerda normalmente querem virar à direita e piscas é coisa de turista. Como tinha uma caução de 500 euros no rent-a-car, andei assim pró ansioso 4 dias. Mas consegui que ninguém me desse uma pancada. Excepto uma num retrovisor, mas que não conta porque não deixou grande marca. Pelo menos, assim visível no meio de todas as outras que já tinha.

- Desconfiem sempre da palavra de um tunisino. Se ele vos disser que a auto-estrada é boa, pensem na nacional Porto – Vila do Conde. Se ele vos disser que existem placas de indicação na estrada, lembrem-lhe que vocês não percebem árabe. É que em francês, só nas zonas turísticas e pouco mais.

- Nunca em lugar algum no mundo vi tanto polícia. A cada 2 quilómetros há uma operação STOP e a cada 500 metros uma patrulha. Não esquecer que a Tunísia faz fronteira com a Argélia e a Líbia, pelo que procuram constantemente contrabandistas e terroristas. Mas pode ser cansativo ser mandado parar 5 vezes ao dia. Apenas para olhar para a nossa cara de ocidental e desejar «Bonne Route». Nunca me foram sequer pedidos documentos. Ao contrário de Marrocos, ali a polícia é, dentro dos possíveis, simpática e tolerante com os turistas.

- É um país pouco usual no que diz respeito à língua que o turista usa. Normalmente, quando o turista português vai à América do Sul, arranha o castelhano. Na Europa, o Inglês. Mas há sempre uma língua base. Na Tunísia, senti diferente. O árabe está fora de questão para o turista e o francês não é propriamente universal. Logo existe uma mistura constante e alternada de línguas. Desenrasca-se o francês, o inglês e o castelhano, numa mescla que se torna mentalmente caricata ao final de alguns dias.

- A gastronomia é fabulosa. Não nos hotéis, que até pode ser 5 estrelas, mas a comida nunca é… autêntica. Mas na rua, nas bancas. Baseia-se no pão ou outras massas de farinha (como crepe), atum, ovo, queijo, frango, batatas e couscous. Nada estranho, portanto. Aconselho provar o famoso chapatti, um crepe recheado e barrado com uma especiaria deliciosa e super picante, a harisha. Diz-se que até limpa o tracto respiratório. Eu acredito.

- Os mercados semanais, souks, e as medinas são locais transcendentes de convívio e comércio. Os vendedores são um bocado chatos, mas não tanto com os portugueses. Toda a gente nos aborda como a mesma questão: nacionalidade? O objectivo é apurar e segmentar o poder de compra. Quando descobrem que somos portugueses, a insistência baixa. Houve um que nos definiu de forma curiosa: «Portugais? Mucho amor, poco dinar». Está tudo dito. Nunca iniciar uma negociação em que não se pretenda verdadeiramente o produto. As regras dizem para oferecer um terço para comprar por metade. Eu diria oferecer um quarto, virar costas, e comprar por um terço.

- Fugir das zonas turísticas. O pior que a Tunísia tem para oferecer é Yasmine Hammamet, Port El Kantaoui ou Monastir. Faz lembrar Vilamoura com uns adereços mais parolos. Apenas Sid Bou Said tem alguma graça. Aconselho a autenticidade do souk de Nabeul, da medina de Sousse ou de Madhia. E ainda as ruínas da antiga Cartago, património mundial da Unesco, e o Coliseu de El-Djem, terceiro maior coliseu romano do mundo e o maior de África. Apenas fiquei com pena de não ter ido ao às portas do Deserto do Saara. Mas ficava a 800 quilómetros a sul, os dias eram apenas quatro e, relembro, o carro era um Fiat Uno.

- O consumo ou mera posse de estupefacientes é severamente punida naquele país, pelo que, apesar da tentação do consumo directamente no produtor, não recomendo. Em alguns locais mais recônditos, existe oferta ao turista, ainda que a um preço mesmo de turista: 5 dinares a grama de haxixe! O triplo do preço aqui, se a qualidade compensa, lamento informar mas não sei. Tive sempre presente a famosa marosca: o turista compra, o vendedor avisa a polícia, a polícia prende o turista, a polícia devolve o produto ao vendedor, o vendedor divide o lucro com a polícia, o vendedor procura outro turista.

Algumas imagens, no sítio do costume.

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