Thursday, August 16, 2007

Saia mais uma corrente!

Prova da popularidade crescente do Estado da Coisa (consta que já temos 5, vá lá, 4 leitores), fui convidado pela Tita a escarrapachar aqui 7 dos meus mais íntimos segredos, numa daquelas correntes que proliferam na blogosfera.

Ora se Fátima só tinha três segredos, como haverei eu de ter logo sete? Não é fácil até porque a minha vida é um livro aberto, embora vedado apenas a alguns clientes da biblioteca. Logo, não serão porventura segredos, mas sim, em alguns casos, particularidades. Particularidades essas que os leitores mais antigos do Estado da Coisa (3, vá lá, 2 leitores) já terão aqui lido noutros contextos.

1º Lido muito mal com a morte. Penso que será fruto do meu ateísmo em conjugação com alguns recalcamentos infantis. Com a minha e com a das pessoas mais próximas. Neste último caso, por sentir a inevitável proximidade, penso nisso mais do que devia e tenho receio de, quando os momentos chegarem, não saber como encaixá-los. É daqueles meus raros momentos em que a emoção me tolda a razão.

2º Sou incoerente no que toca à simbiose entre a minha vida pessoal e profissional. Quem me conhece pessoalmente, dificilmente me imagina um profissional e as pessoas com quem privo a nível exclusivamente profissional não podem sequer ter conhecimento das minhas actividades pessoais, sob pena de algum descrédito. O paralelismo foi a opção que fiz. As outras seriam mudar a minha essência ou a minha profissão.

3º Como homem feliz com a sua vida, não me arrependo dos meus actos e percurso passado, incluindo os (muitos e naturais) erros. Assumo antes a aprendizagem daí decorrente (teoria do sucesso via tentativa e erro), e vivo virado para o futuro. Mas, ainda assim, acredito que todos temos os nossos fantasmas. E alguns fazem com que se procure incessantemente uma redenção que não chega. Por isso me diz tanto esta frase do filme Levity (2003): «Li um livro escrito no séc. XI que dizia que havia cinco passos para obter o perdão. O primeiro era confessar o que tinhas feito. O segundo era teres remorsos. O terceiro era compensares quem prejudicaste. Só depois podias passar para o quarto passo, que era fazeres as pazes com Deus. Mas só depois do quinto passo vinha a verdadeira redenção. E esse era voltar ao mesmo lugar, à mesma situação, e não voltares a fazer a mesma coisa. Só que não estou a ver um deus a abrir-me os braços. Isso arruma o passo quatro. E, quanto ao quinto, o tempo não nos deixa voltar segunda vez ao mesmo lugar, por muito que o desejássemos. E é por isso que sei que, no meu caso, não há redenção.»

4º Começa a preocupar-me ser um puto de 31 anos. Solteiro, sem filhos, sem bens registados. Apenas um gosto apurado pelo princípio do prazer. Sinto-me bem na minha juventude e conservada imaturidade, mas quando olho à minha volta, e pela divergência com o meu mercado de referência, desconfio que isso já não é tanto uma vantagem.

5º Tenho um sentido de justiça excessivamente apurado, que nem sempre é o legal ou socialmente aceitável. Isso faz de mim um ser que, quando é confrontado com genuína maldade, reage com o pior que há em si. Dar a outra face não me conforta. Preciso dar o troco na inflacionada proporção ao alvo da injustiça para me sentir aliviado e, de seguida, poder esquecer e até perdoar. Culpa da minha mãe que sempre me ensinou: «Por cada filho da puta, há sempre um filho da puta e meio.»

6º Não perceber nada de música e não saber tocar um único instrumento é uma das minhas grandes frustrações. Quase todos os dias digo a mim mesmo que ainda vou a tempo de aprender qualquer coisa. Aqui a culpa é do professor de Educação Musical no 5º ano do ciclo que só punha um gajo agarrado à flauta e ao xilofone a tocar Paul McCartney e a banda sonora de uma série televisiva de kung fu que existia na altura.

7º Menti no ponto 3. Arrependo-me até hoje de não ter ido ao concerto de Pearl Jam, no Restelo, em Maio de 2000.

Não passarei a corrente a ninguém. Primeiro, porque os leitores do Estado da Coisa têm ar de ter segredos demasiado chocantes e com cariz marcadamente criminal. Depois porque duvido que alguém os queira revelar. Se estiver enganado, considerem-se convidados e tenham o obséquio.

Labels: