O Estado da Pós-Democracia
Preparemos nos próximos tempos para os muitos artigos, textos, livros e debates que surgirão acerca deste novo conceito: a pós-democracia.
O filósofo Richard Rorty, pensador que se define como «burguês liberal e romântico», não sendo propriamente um suspeito e vulgar guru do esquerdismo ou da anti-globalização, publicou na revista inglesa London Review of Books um artigo que nos fala disso mesmo, de uma forma simples, rigorosa e intelectualmente honesta.
Segundo o mesmo, a guerra contra o terrorismo terá consequências bem piores que o terrorismo em si. A sua ameaça mais séria para o Ocidente é o fim das instituições democráticas que garantem o gozo das liberdades. Já aconteceu inclusivé nos Estados Unidos com a aprovação da Lei Patriótica e em Inglaterra com a Lei da Segurança, Anti-Terrorismo e Crime. Foram reacções a ataques terroristas com armas convencionais (sim, os aviões comerciais também são entendidos aqui como armas convencionais). Dentro de alguns anos, será possível comprar no mercado negro uma arma nuclear de destruição massiva do tamanho de uma mochila, fabricada no Paquistão ou Coreia do Norte. Para combater este terrorismo, é de esperar que os estados democráticos exijam poderes para a sua prevenção. E é natural que os cidadãos aceitem a concessão, em prejuízo das suas liberdades individuais. Ou seja, no final deste processo a democracia estará transformado em algo mutado, numa pós-democracia. Talvez não exactamente uma ditadura militar ou um estado totalitário, nem sequer um Big Brother, mas antes «um despotismo relativamente benevolente, imposto pelo que viria a tornar-se, gradualmente, uma 'nomenklatura' hereditária».
O mesmo autor defende que a única forma de o evitar é não cedendo ao terrorismo e não permitindo aos Estados a cultura do secretismo, substituindo-a pela força da opinião pública. Caso contrário, os historiadores terão um dia de explicar porque razão a democracia ocidental não durou mais que uns míseros 200 anos.
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