Thursday, April 08, 2004

O Estado da Hipocrisia

Tira-me do sério a hipocrisia norte-americana. Faz-me lembrar aquelas situações curriqueiras e usuais que acontecem na vida do comum dos mortais, em que alguém nos conta uma história ou situação completamente empolada ou alterada, e nós porque conhecemos demasiado bem o interlocutor, sabemos que não foi bem assim e sentimos e adivinhamos do fundo da alma a situação real. Mas calamos e fazemo-nos de burros para não levantar ondas. E o interlocutor acredita que somos mesmo assim burros, o que significa que o burro não somos nós. É complicado e triste. A uma escala mais elevada, chama-se política.
No caso americano penso: o povo não é muito certinho. Anualmente, são emitidas 30 milhões de receitas médicas com anti-depressivos, estando o Prozac a ganhar ao Zoloft a corrida pela liderança de vendas. O triplo da população portuguesa ou 3 cidades de Nova Iorque. Também foi noticiado à dias que 23% da população portuguesa consome ansiolíticos (Lexotan, Valium...), no entanto há uma diferença: o português mete um calmante para suportar o fardo e o fado, o americano já quer é andar feliz.
Depois, não possuem uma democracia em que as bestas por serem maioria governam, transformando o Estado numa República de Bananas, em que tudo é proibido mas depois ninguém fiscaliza e portanto ninguém cumpre. Por exemplo, os impostos. Toda a gente mente nos impostos, incluindo os párocos. Até eu! O próprio Estado espera isso de nós, o contrário é anti-natura. Do outro lado do Atlântico é diferente. A besta é só uma e a ditadura moderna governa. Pode ser uma merda na mesma, mas é mais apuradinha. E perigosa, porque a besta é poderosa e não precisa de andar a lamber rabos como o nosso cherne. E ninguém ronca senão tem de levar em cima com os USSS, CIA, FBI e Cª. Exemplo primeiro: O monga deu-se ao luxo, qual sultão das arábias, a resolver um problema edipiano do clã Bush, ao terminar o trabalho no Iraque que o seu pai não tinha conseguido, provando a sua parca masculinidade. Segundo: Existe nos EUA, uma censura talibã, em que a irmã do pedófilo nem sequer pode mostrar uma mama massacrada pela lei da gravidade, sem que isso tivesse chocado o povo que menos sexo pratica no planeta, mas que maior material pornográfico produz para consumo interno. «Parental Advisory Explicit Content» é um símbolo americano. Eu chamo-lhe falso moralismo. Terceiro: Foi a única nação que até hoje utilizou uma bomba atómica... e tem a lata de ser o polícia do mundo a nível nuclear (e económico também): os outros é que são tolos e por isso não podem ter nas mãos tamanho poder e capacidade de destruição. Quarto: a seguir à China, são a nação que mais pessoas condena à morte e executa por ano (deve ser por isso que têm tanto respeitinho aos chinocas). Por outro prisma, são fiéis e acérrimos defensores do moralismo cristão anti-aborto.

É tudo tão evidente, e eles continuam a achar que os outros seres inferiores não percebem o seu carácter. Os outros são os burros...