O Estado da Introspecção do Autor
A fase é grave. Tenho consciência que ninguém reparou mas há bastantes dias que não faço um post, porque a imaginação varreu-se-me com a passagem do ano, provavelmente reflexos e/ou castigo divino pelo facto de, inconcebivelmente, não ter apanhado uma bebedeira descomunal, porque a tradição ainda devia ser o que era. E os neurónios habituam-se à pancada.
Apenas após jantar, quando fumo o Paiva da praxe, sou invadido por pensamentos e ideias dignos de registo, estruturados, complexos e de muito non-sense e bom gosto, sentindo-me preenchido pelo patrocínio norte africano, verdadeiro catalisador espiritual. Melhor, só o personagem da Voxx.
Manhã seguinte. Necessidade fisiológica, água, cigarro, duche, café, cigarro, trânsito, cigarro, trânsito, cigarro, emprego. Tenho um vácuo no cérebro, ganda corrente de ar... preguiça mental pura e dura. Não me lembro sequer do que jantei, sempre é verdade o que diziam, porra!
É aqui que as primeiras sinapses dão sinal de vida e me apercebo que vivo, historicamente, a maior das minhas questões existenciais: devo pedir um tempo ao shito após 3285 dias de relação íntima, ou pelo contrário, tenho mais é de dar forte na mortalha para espantar os maus espíritos? Isto só pode ser crise de meia-idade...
No entanto, existe uma lufada de ar fresco na minha patologia: por comparação, sou sem dúvida um must, uma obra-prima de inteligência lógica, analítica e emocional. O método de aferição é pacífico: basta observar. Quem nunca pensou «Deus me livre, que totinho de merda, muito burro é este Zé» ou «Este artista pensa que é mais fino do que eu e me come a cabeça, deixa estar que já o fodo...»? Se calhar, bastante gente, incluindo os meus modelos. Eu penso todos os dias. É certo que estou em Portugal, não acrescenta valor à minha grandeza, não credibiliza a minha superioridade, mas dá-me uma certeza: sofro o pior dos exílios, sou um estrangeiro em terra própria.
Só não sou modesto. Não é fácil.
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