Thursday, July 30, 2009

Orgasmo sem prazer

Esta semana estive num funeral. De alguém pouco próximo, presença pela amizade e respeito ao descendente. Evito cobardemente os funerais. Não ia a nenhum há alguns anos, não por falta de oportunidade mas por esquiva. Mesmo de familiares próximos. Ninguém gosta, é certo, não é propriamente uma actividade prazerosa. Mas acho que o faço porque o ritual me choca e me cria uma imagem que prefiro não ter da pessoa que fisicamente desaparece da minha vida.

Sou um céptico por natureza, já o assumi aqui. E, às vezes, gostava de não o ser. Deve ser bom ter fé, deve ser confortante. No meu olhar desinteressado, reparo que todas as religiões criadas e disseminadas pelo Homem têm um objectivo comum e primário que é justificar o fim, a morte.
É difícil só acreditar no que vemos e não ter crença no que nos contam. É limitativo. Porque o olhar é também limitado. Torna-nos curtos, não cultos, e azedos.

Assisti respeitosamente ao ritual. Em silêncio. Ouvi o discurso do sacerdote da glorificação da morte. Do conceito cristão de felicidade. Em que segundo a Carta de S. Paulo aos Romanos, «vitoriosos aqueles que morrem». Um discurso que roçava a alegria pelo momento que finalmente chegou e já tardava. Exageradamente nesta linha o sermão de meia hora de positividade. Não o quero um dia destes para os meus pais, eles crentes. Compreendo a intenção. Do sacerdote e da cristandade. O sabor do agridoce. O combate da tristeza pela fé. O atenuar o brutal sofrimento pelo conforto da crença.

Mas a minha limitação não deixou de achar o momento algo chocante e macabro. Porque um dia em que se perde alguém que se ama é, para mim, saudavel e assumidamente, um dia enlutado e triste. Não consigo ver pintar um quadro de branco quando ele é preto.

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