Ai que saudades já tinha destas tertúlias, via mailgroups
O que começou com uma farpa sobre os professores, virou debate aceso entre o sector público e privado. Medo. E eis que solicitam a opinião do hollygang, como profissional RH, até aí mero espectador.
«Quem está de fora racha lenha, não é o que diz a sabedoria popular? Sem querer armar-me no apaziguador, concordo com os argumentos de ambos. E já que fui convidado a opinar, cá vai.
Tudo que posso partilhar é basicamente opinião formulada numa base de experiência pessoal, cuja amostra, admito, possa não ser representativa de todo o universo. E o que escrevo não tem nada a ver com posição política, pois desde que vejo socialistas a tomar posições sociais-democratas e vice-versa, já desisti de ter opinião.
No que diz respeito à máquina do funcionalismo público, no qual incluo também a Educação, não acredito no sistema e no modelo de gestão global. Não compreendo profissionais que são contra picagens de ponto, avaliações de desempenho, mudança, produtividade, objectivos, lucro. Acredito que as organizações devem ser viáveis e que só fazem sentido quando satisfazem a razão para a qual foram criadas.
Se os funcionários públicos estão a perder direitos? Estão. Se acho que, em comparação com o privado, tinham direitos a mais? Também acho. Pura e simplesmente não deveriam existir diferenças, tanto ao nível dos direitos como dos deveres. Numa perspectiva macro, as empresas estatais têm objectivos políticos. Os comerciais são secundários. O dinheiro não chega? «Eh pá, manda buscar mais uma remessa ao cofre sem fundo que é o dinheiro dos contribuintes». E assim os salários de quem lá está estão assegurados. E os direitos adquiridos garantidos, lembram os sindicatos. Nasce uma acomodação. Uma burocracia. Um relaxamento contaminante. São de louvar os profissionais que resistem a esta aculturação generalizada, que regra geral abraça quem lá chega, ainda com vontade, sufocando-as.
As empresas não são a Santa Casa da Misericórdia. Existe Responsabilidade Social, mas mesmo essa tem subliminarmente um objectivo de marketing interno e externo. A função Recursos Humanos é conciliar o objectivo organizacional, com os objectivos individuais dos seus colaboradores. É, assim, motivar as suas pessoas, formando-as, recompensando-as directa ou indirectamente, avaliando e desenvolvendo-as, dando-lhe margem de progressão interna, indo de encontro o máximo possível às suas expectativas. Com que objectivo? De forma a rentabilizá-las em prol do negócio. Mai’nada! E esta balança tem de se manter equilibrada. Quando deixa de existir esse mutualismo, a relação de trabalho deixa de ser interessante. O trabalhador que não rende é dispensado. A empresa que não alicia, perde os seus melhores profissionais, aqueles que gerem e acreditam nas suas competências com o objectivo de serem sempre apetecíveis para o mercado. Lei de selecção natural, em versão urbana. Os que ficam, “por ficar”, não rendem, nem reactiva muito menos proactivamente. Bola de neve. O negócio acaba então por se extinguir.
O factor de filosofia mais pública que existe no privado é, tão só, a legislação laboral. Onde não aparece a palavra desempenho. Apenas horário. Tem de entrar às 9h. Tem de cumprir 40 horas por semana. E já chega assim. Sim, acho-a ainda proteccionista. Quando na realidade, na maior parte das empresas de sucesso, não importa a que horas chegas. Não importa quantas horas cumpres (normalmente, ficas bem a perder). Tens é de cumprir os objectivos para os quais foste contratado, sob pena de não seres apto para a função e ires à vidinha. Orçamentos a cumprir, sem derrapagens possíveis. E este é um peso considerável, não ter nada garantido. Mas um peso que também estimula. A Lei necessita de manter os empresários com rédea curta, senão seria um abuso, alega-se. E cresciam as injustiças. Verdade. Mas não conheço nenhum empresário que não queira ter os melhores profissionais consigo, aqueles que seriamente se empenham, atingem resultados e contribuem positivamente para o seu negócio. Mesmo aquele empresário português de mentalidade típica, que dirige a nossa micro e pequena empresa, e que procura o lucro fácil e rápido, em detrimento da estratégia para o futuro. Conceito de emporwement, a preocupação com o negócio não é da exclusiva responsabilidade do patrão.
Porque razão a gestão não ser a mesma nos dois sectores? O Estado não precisa, com a excepção de um ou outro serviço, de dar lucro na sua generalidade? Senão, a manta fica cada vez mais curta. Está um pau de dois bicos… o escrivão estereotipado acha que não é, ainda, devidamente estimulado para ter a obrigação de produzir qualquer coisa de útil. E o Estado acha que já há benesses a mais para quem não produz (excepção para os políticos, eles próprios, mas isso seria outra discussão). Só não percebo porque, sempre que o Estado quer diferenciar o trigo do joio, a revolta é geral.
Claro que há bons e maus exemplos no público e no privado. Claro que há excepções. Claro que há professores maltratados. Claro que há professores mais dedicados que muitos privados e que dão aulas com sentido social, coisa que adivinho que eu não seria capaz de fazer. Costumo dizer, nem mercenário nem missionário.
E a moral é esta. Quem não está bem, tem de fazer pela vida e não ficar à espera da responsabilidade dos outros, ou do Estado Pai. E a nossa responsabilidade onde fica? É este o nosso auto conceito? Na minha terra diz-se: «É só benha, benha, benha!». Se calhar é de mim, que tenho a mania que sou liberal demais. E, como disse, isto é só opinião.»
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