Homenagem a um estilo de vida
Assisto à cerimónia das 7 Maravilhas do Mundo Moderno. Eu que já visitei 5 grandes cidades europeias e 3 destinos intercontinentais, só conheço ainda uma delas: Chichen Itza, no México. Gostava de os visitar a todos. E lembro-me do meu cunhadito.
O irmão da minha cara-metade tem apenas 26 anos. Terminou o 12º ano e tirou um curso profissional de fotografia, enquanto ia ganhando uns cobres na hotelaria como recepcionista e bagageiro. Cedo percebeu que não queria passar a sua vida a tirar fotos para jornais.
Foi para a tropa no Alentejo. Conheceu em Évora uma universitária madeirense. Lá ficou a viver com ela, numa residência universitária, durante um ano enquanto servia à mesa numa pizzaria. Terminou a relação e foi lamber as feridas num inter-rail. Sozinho, 3 meses de viagem. Directo a Itália, depois Grécia, Albânia, Sérvia, Bósnia, Croácia, Eslovénia, Hungria, Eslováquia e República Checa. Sempre acompanhado da sua câmara fotográfica e um diário de viagem.
Acabou o guito e regressou a Portugal. Sem casa própria, sem namorada, sem sequer carta de condução. Até hoje. Decidiu que iria ser viajante e precisava de uma forma mais rápida de ganhar dinheiro. Aproveitou a experiência na hotelaria e atirou-se para Inglaterra, com a referência de um amigo. Durante um ano, trabalhou num hotel no País de Gales, num ambiente cosmopolita com colegas polacos, irlandeses, sul-africanos, espanhóis e australianos.
Juntou uns milhares de euros. Veio a Portugal uma semana visitar a família e apanhou um vôo para Salvador da Bahia, para uma viagem de 5 meses. Novamente sozinho, e com apenas uma mochila às costas, percorreu todo o litoral brasileiro (sim, esteve no Rio e visitou a estátua do Cristo Redentor). Depois, Uruguai, Argentina, Chile, Peru (sim, também esteve em Machu Pichu), Paraguai, Bolívia e regresso a Manaus, no Brasil à entrada da selva amazónica. Conheceu um australiano, contrataram dois índios-guia e entraram pela selva dentro uns 400 quilómetros onde ficaram uma semana. Pior que piranhas, jacarés, onças, aranhas e serpentes são, segundo ele, os mosquitos.
Novamente sem dinheiro, regresso a Portugal. Uns telefonemas e novo hotel em Inglaterra, perto de Londres. Mais um ano.
Em Setembro apanha um vôo de Londres para Nova Deli, na Índia. Pelo dinheiro que tem, estima uma viagem de 6 meses. Já tem vistos para a India (claro, irá ao Taj Mahal), Nepal, Bangladesh, Tailandia, Laos, Vietname, Cambodja e China (pois, a famosa Muralha).
Seguir-se-à no futuro, diz, uma viagem a África. Sempre acompanhado pela câmara fotográfica, já possui muitos milhares de fotografias raras. Um dia, pensará em publicá-las.
Ele sim, pode dizer que conhece os destinos para onde parte. Nós, turistas, conhecemos um hotel num lugar longínquo e, quando muito, meia dúzia de sítios que nos levam a visitar em "carneirada". Sítios preparados para os olhos dos turistas.
É um estilo de vida. Invejável e corajoso. Onde se perdem alguns projectos que todos temos, como carreira, família e amigos de longa data presentes. Mas onde se ganham outras coisas que poucos temos. Como memórias.
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