Friday, April 07, 2006

Primeira crítica ao projecto Vespa

Por Hugo Torres, em Rascunho:

«Dá-te roupas, tempo, mendigo. Sussurra ou cala-te. Às coisas deitadas, quase-arrumadas, perdidas no chão das dispensas a cada passo do quarto, no ar esvoaçante das prateleiras que perpetuam aos olhos a majestade das palavras, das lombadas coloridas e comidas na erosão e na sobreposição do pó. Senta-te sozinho a olhar o cartaz de outras horas. Acutilantes. Degenera dentro do corpo que te ameaça ferozmente.
Tive saudade de onde estava a luz. Criou desejos nas guitarras e nas frases soltas, unidas em potência num poema. Certo da morte, agarrar o azul e o verde dançantes. Calmamente. Com a naturalidade do mundo do sábado à tarde – no café muito vazio e cheio quanto baste, no silêncio enganado pela bola na parede, pelas conversas sobre um jornal. E estas músicas seriam ambiente excelente. E cantarolar, aqui e ali.

«E se dizer mal é a minha missão/ E se me pagam, faço disso profissão/ E eis que escrevo e alguém lê/ Pega moda/ Meu ego mora num t3» – eis os versos finais do tema que abre esta demo, É Crítico Dar-te. O meu (ego) desenlaça-se de cordas e paredes na ponta de um nariz que espirra coisas bonitas. Gosta o meu ego de se expandir em sons novos, que me levam à palavra, à atenção, ao disco para traz e para diante, o ora ouve isto… altamente, não é?. E, aqui, começa-me assim a viagem. Como não me pagam…
Karma Suta segue a ambiência simpática (sim: claramente simpática, é este o adjectivo – que não tem capacidades castradoras, aqui) do disco. Desenvolve-se o baixo em ritmos de coração, como se a vida tivesse este ritmo – estas notas até! Os sons agarrados das guitarras são sonhadores, cada uma para seu lado; a força, o peso do todo.Pérola de rádio é Tempo. Com aquele pequenino toque no laço da prenda, que ora a senhora da loja ora a mãe sabem fazer – só uma, e uma delas, apenas. As pálpebras declinam em favor da total entrega, obstinadas, para que não se confundam as imagens reais da canção com as de sempre, que nos passam na tela do quotidiano.
Com tradição fecha. Curta e incisiva: «Uma canção/ Para deixar bem claro/ Uma boa noite/ É um momento raro». Se bem que me são cada vez menos raros os instantes da chegada às mãos de maquetas e EP’s de bandas com norte ainda na garagem com altas potencialidades. Como esta. Do tema: repleto, chega.

Os Vespa saem de nomes como Foggy Vagabond, Foggy e Organza. Ao fim de algumas horas de pausa decidem regressar às lides, tirar pó aos instrumentos, aos dedos, às vozes, reúnem-se, e gravam esta demo na famigerada garagem. É bom tê-los de volta: Hugo Rei (voz), Rodolfo Coelho (guitarra), Jorge Jacinto (guitarra e coros), Fred Xavier (baixo e coros) e André Coelho (bateria).
Pelo meio ficaram projectos como o do Rodolfo com Vítor Sousa (baixista de Turbojunkie em Used) e Pedro Lima (voz de MOSH). Ainda a trabalhar estão os Lucky Stereo, com o dedo do André, depois do lugar aberto deixado por João Pedro Coimbra (Mesa).»

A próxima publicidade passa a ser paga, ouviram? Os poucos leitores que ainda não pertencem à comunidade e ficaram curiosos, não deixem de visitar a agenda no site oficial ou no MySpace.